20 de janeiro de 2020
O site The Intercept Brasil cruzou uma linha inaceitável nesta segunda-feira (20) ao expor a relação entre procuradores da República e jornalistas do Antagonista.
Os dois sites polarizam uma disputa em torno da Lava Jato. O The Intercept expõe numa sucessão de reportagens medidas questionáveis dos procuradores baseados em Curitiba.
Já O Antagonista se notabilizou pelo apoio incondicional à Lava Jato e os procuradores. Sua cobertura já indicava que ele recebia informações privilegiadas da Lava Jato.
A relação entre fontes e jornalistas é baseada, no geral, em interesse de quem passa as informações. As motivações vão das mais baixas, como passar informação para prejudicar um adversário, às mais altas, como repassar informações, tão somente e apenas, pelo interesse público.
Cabe ao jornalista, ao receber as informações, dosar se quem vai ser mais beneficiado é a fonte ou o interesse público.
Ao expor a relação entre os jornalistas do Antagonista e procuradores da Lava Jato, o site The Intercept Brasil cruzou uma linha inaceitável na medida em que não traz, em nenhum momento de seu texto, as razões de porquê o fez.
Qual é o interesse público em revelar que os jornalistas de o Antagonista tinham acesso privilegiado a algumas informações?
A falta de clareza nessa resposta dá margem para afirmar que a publicação do The Intercept nesta segunda-feira é movida pelo revanchismo contra o Antagonista, crítico mordaz do site liderado por Glenn Greenwald.
O próprio The Intercept Brasil teve acesso privilegiado às conversações de dezenas de autoridades e esperava-se, com isso, que apenas o que fosse de relevância pública viesse à superfície.
Cumpre lembrar que se houve crime na relação entre procuradores e O Antagonista, ele foi praticado por procuradores ao repassar informações sigilosas aos jornalistas, como o criminoso foi o hacker que invadiu as contas do Telegram de autoridades e repassou o conteúdo ao The Intercept.
Em ambos os casos, nem os jornalistas do Antagonista nem do The Intercept incorreram em crime ao receber informações.
Quem conseguiu fazer uma imersão nessa relação e levantar a discussão sem cruzar a linha do aceitável foi o jornalista Ricardo Balthazar, ao explanar como os procuradores discutiam como iriam vazar informações. Balthazar, no entanto, não quebrou o anonimato de nenhum jornalista com sua fonte.
Esperava-se do The Intercept, que veio com o discurso moralizador do jornalismo, honrar suas convicções e não atirá-las na vala comum em nome do revanchismo.
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