Blog do Dina - Em ano eleitoral, crise deve empurrar mais 1 milhão de brasileiros para a fila do desemprego


Em ano eleitoral, crise deve empurrar mais 1 milhão de brasileiros para a fila do desemprego

14 de fevereiro de 2022 às 8:22

Nelton Laurindo Pinto, de 30 anos, procura emprego com carteira assinada há quatro anos. Sem conseguir uma oportunidade, o morador da Cidade Estrutural, comunidade localizada a 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes, em Brasília, vinha recorrendo a pequenos serviços em obras para garantir o sustento da mulher e dos dois filhos, de 2 e 3 anos. Mas até isso ficou difícil.

— Eu mando currículo para empresas para todo lado, procuro na internet, mas nunca me chamaram. Nunca trabalhei com carteira assinada. Vou em obra porque é o recurso que sobra, mas agora deu uma parada — conta.

Neste ano eleitoral, a lenta recuperação do mercado de trabalho, com inflação e juros altos, deve dominar os debates. Tiago Tristão, economista da Absolute Investimentos, estima que ao fim de 2022 serão 13,4 milhões de pessoas desempregadas, 1 milhão a mais que no fim do ano passado, mesmo com a expectativa da geração líquida de 400 mil vagas neste ano. Ou seja, a geração de vagas não vai acompanhar o aumento da procura por trabalho.

— O desemprego não vai cair de 12% para 8% em um ou dois anos. Vamos conviver com taxa de desemprego elevada por alguns anos. Quem assumir o governo, do ponto de vista da narrativa econômica, não tem problema, porque se a economia voltar ao potencial ao longo do tempo, tem quatro anos para uma recuperação. O problema é para quem está no governo agora — diz Tristão.

Uma situação que não deve se alterar na próxima década, na avaliação de Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria. Ele diz que a taxa de desemprego deve ficar em dois dígitos nos próximos dez anos, apesar de prever para dezembro um número de desempregados menor do que Tristão: 12,7 milhões.

— A incerteza gerada pelo ciclo eleitoral doméstico limita o dinamismo econômico e gera consequências para a retomada do emprego. O cenário para 2022 está bastante deteriorado e é desafiador, com destaque negativo para a queda do rendimento médio dos trabalhadores — explica Assis, lembrando que os impactos poderão ser duradouros. — Isso gera uma perda de capital humano muito grande, afetando a produtividade:

Taxa pode chegar a 13%

Nelton Pinto não é o único desempregado na casa em que vive com família e divide com outros parentes. Sua cunhada, Maria Marta Santiago da Cruz, de 22 anos, está há dois anos sem trabalhar. O marido dela, vidraceiro, é o único na casa com carteira assinada. Maria Marta, que já trabalhou com reciclagem, em restaurantes e como doméstica, também busca um trabalho formal. Candidatou-se a uma vaga de auxiliar de cozinha, sem sucesso.

— Agora é procurar, mas desanima demais, ainda mais quando a gente chega no lugar e o pessoal diz que não tem mais vaga, que acabou. Mas não pode perder a esperança — diz a jovem, que tem dois filhos.

A economia estagnada — o mercado projeta crescimento de apenas 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano — vai afetar a decisão dos eleitores, dizem especialistas. Bancos e consultorias estimam que o desemprego pode fechar 2022 entre 11,8% e 13%, acima dos registrados em outros anos eleitorais.

Na reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do IBGE, hoje extinta, mostrava taxa de desemprego em dezembro de 6,32%. Em 2002, quando o PT ganhou as eleições do PSDB, o índice, ainda medido pela PME mas com nova metodologia, que captava melhor o desemprego, era de 10,5%.

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O GLOBO

Foto: CRISTIANO MARIZ / Agência O Globo

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