Blog do Dina - Entenda em oito perguntas como a crise na Ucrânia se transformou numa guerra


Entenda em oito perguntas como a crise na Ucrânia se transformou numa guerra

24 de fevereiro de 2022 às 8:32

A crise entre Ucrânia e Rússia, que com a invasão russa deste dia 24 de fevereiro se tornou uma das mais graves em solo europeu nas últimas duas décadas, partiu de antigas divergências estratégicas entre Moscou e os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Conheça abaixo a origem da crise e as opções que os envolvidos têm agora.

Qual é a origem da crise?
A Rússia e a ex-república soviética da Ucrânia vivem uma relação turbulenta desde a primeira década deste século, com a alternância em Kiev de presidentes favoráveis ao Ocidente e aliados de Moscou. Em 2013, por pressão da Rússia, o governo ucraniano desistiu de um acordo que poderia pavimentar a entrada do país na União Europeia. Isso levou a uma revolta nas ruas e à queda de Viktor Yanukovich, alinhado ao Kremlin.

Os anos seguintes foram marcados pela anexação pela Rússia da Península da Crimeia, sede da frota russa no Mar Negro e que havia sido cedida à Ucrânia na era soviética; pelo conflito entre separatistas pró-Moscou e o Exército local no Leste ucraniano; e pela retomada da candidatura de Kiev a uma vaga na Otan. Sob críticas de Moscou, o país estreitou seus laços com a aliança, e Vladimir Putin apontou que a adesão seria uma “linha vermelha”. A Rússia também estava incomodada com as recentes aquisições de armas por Kiev, incluindo drones de ataque turcos, e com seu possível uso contra os separatistas no Leste do país.

Em novembro de 2021, percebendo uma oportunidade nas dificuldades enfrentadas pelo governo de Joe Biden e suas divergências com os aliados europeus sobre como lidar com Moscou, Putin concentrou mais de 100 mil soldados na fronteira da Ucrânia, soando alarmes em Kiev, em Washington e na Europa de que estaria prestes a uma invasão, finalmente concretizada neste final de fevereiro.

O que a Rússia queria?
Entre as “demandas de segurança”, apresentadas à Otan em dezembro, a Rússia exigia um veto permanente à entrada da Ucrânia na aliança, mas essa era apenas uma parte dos objetivos do país. Putin critica a expansão da organização rumo às fronteiras russas, que vem desde o fim da União Soviética em 1991, e cita uma promessa feita por líderes dos EUA e da Europa, nos anos 1990, de que o “limite” da Otan seria a Alemanha então recém-reunificada, algo que Washington nega.

O que a Otan estava disposta a negociar?
Em sua resposta à Rússia, a Otan e os EUA deixaram claro que alguns pontos eram inegociáveis: o veto à entrada da Ucrânia, que significaria o rompimento da política de “portas abertas”; a retirada das forças do Leste europeu e, por fim, o status das armas nucleares localizadas em nações como a Alemanha e a Turquia.

A Rússia se declarou de forma veemente insatisfeita com as respostas do Ocidente, ao qual acusou de violar um pacto firmado em 1999 no âmbito de Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) no qual os países se comprometiam a não "fortalecer sua segurança à custa da segurança de outros Estados”.

Qual era o objetivo da mobilização de forças pela Otan?
Ao aumentar seu contingente no flanco oriental em reação à mobilização de tropas russas, a Otan pretendia passar uma imagem de união para Moscou, sinalizando que a pressão sobre os ucranianos não serviria para inibir sua presença na área.

Mas, apesar das boas relações com os EUA e o Ocidente, a Ucrânia não é parte da Otan, e não se beneficia do chamado Artigo 5º, que considera um ataque contra um dos membros como um ataque a todos.

Além disso, embora a Rússia seja considerada uma adversária pelo governo Biden, a Ucrânia não tem para Washington a importância estratégica que tem Taiwan, por exemplo, cujo autogoverno atual impede que a China controle o estreito vital que a separa da ilha.

Quais são as opções da Otan após a invasão?
É consenso entre os países da Otan que a invasão é o pior cenário: afinal, há pouca disposição para enviar tropas para lutar contra a Rússia, e um conflito assim terá consequências duras também para a aliança.

Quais são as opções da Rússia agora?
A Rússia negava ter planos de uma invasão, mas analistas acreditam que, com a decisão de invadir, Putin optará por uma operação rápida, com ataques contra alvos estratégicos, com o objetivo de humilhar as forças ucranianas e mostrar que o Ocidente não é tão aliado assim. Um conflito longo, com muitas baixas, não é do interesse de Moscou, e poderia trazer abalos internos para Putin.

Há divisão na Europa?
O ponto central, especialmente para a Alemanha, é a energia. O país depende do gás importado da Rússia para atender sua demanda interna, assim como quase todos os 27 países da União Europeia.

Há também questões em torno do alinhamento a Washington. Um maior alinhamento é defendido por Reino Unido, hoje fora da União Europeia, e pelas nações do Leste europeu, que temem o expansionismo russo. Do outro lado, países como a França ressaltam a necessidade de autodeterminação e autonomia do bloco. O presidente Emmanuel Macron vinha tentando conduzir um diálogo diplomático entre Rússia e Ucrânia, para mostrar que a Europa conseguiria resolver suas próprias crises sem a participação americana.

Onde a Ucrânia entrava nas negociações?
As opções para a Ucrânia eram poucas e, em sua maioria, pouco atraentes. A entrada para a Otan, mesmo sem considerar a oposição de Moscou, é hoje improvável, resultado da pouca confiança nas autoridades em Kiev e do cenário estratégico regional. A promessa de fornecimento de armas se resume a equipamentos defensivos, e nem os EUA parecem dispostos a um envolvimento mais amplo. Enfrentar os russos no campo de batalha será difícil, dadas as diferenças entre os dois arsenais.

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O GLOBO

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