Blog do Dina - Lula e Bolsonaro disputam batalha fashion em roupas e acessórios além do Planalto


Lula e Bolsonaro disputam batalha fashion em roupas e acessórios além do Planalto

25 de maio de 2022 às 11:28

Aos finais de semana, bancas e barraquinhas se espalham pela avenida Paulista, em São Paulo, para vender toda sorte de quinquilharia, de artesanato a ímãs de geladeira, camisetas, canecas, toalhas, bandeiras, bonés.

As estampas do momento trazem figuras da cultura pop, como personagens de desenhos animados e do cinema, bandas de rock, frases engraçadinhas, palavras de ordem.

E, nesse caldeirão, Lula e Bolsonaro também estrelam peças, refletindo a polarização política às vésperas das eleições mais tensas desde a redemocratização do país na década de 1980.

Embora seja possível encontrar um ou outro item com palavras como "mito" ou que exibam as cores da bandeira do Brasil, é o candidato petista que domina o comércio popular na região, onde aparece junto a outros objetos de temática progressista, em camisetas vermelhas estampadas com a estrela do PT, com o seu rosto, junto a frases de impacto ou de campanhas antigas, como "o Brasil feliz de novo".

Numa banquinha próxima à esquina com a alameda Ministro Rocha de Azevedo, o vendedor Yuri Ribeiro dos Santos vende itens com estampas que remetem a causas progressistas. Muitas delas exibem, sobre o vermelho que identifica o PT, o rosto de Lula, ou um desenho de uma mão com os dedos formando um "L".

"As peças saem bem. Sai muita coisa do Lula. Tem domingo que chego a vender 30 camisetas", conta ele. O preço de cada uma é R$ 35.

A poucos passos dali, um varal improvisado expõe toalhas de banho com o rosto dos dois pré-candidatos à disputa eleitoral. A do Lula reproduz uma foto antiga, sob o lema "o Brasil feliz de novo", da campanha de 2018 — a mesma que Pabllo Vittar exibiu no festival Lollapalooza deste ano. Na de Bolsonaro, por sua vez, se lê "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" sobre as cores da bandeira nacional.

"Cada uma custa R$ 50, mas dá para negociar por até R$ 30", diz o vendedor Jaime Carvalho Gonçalves. "As do Lula vendem mais. De cada dez vendidas, oito são dele."

Durante a semana, um ambulante monta seu ponto no largo da Santa Cecília, na região central, para vender bonés e chapéus com bordados de times de futebol —e opções dos rivais políticos. Enquanto o de Lula é vermelho e apresenta uma releitura do logo da campanha do petista de 1989, o de Bolsonaro é verde e tem seu nome escrito sobre a bandeira do Brasil. Cada peça custa R$ 20.

"Eu percebo que aqui nessa região, o pessoal prefere o Lula. Do Bolsonaro mesmo eu só tenho esse", diz o comerciante, que não quis se identificar.

Santinhos, bonés e camisetas com estampas de políticos são parte da cultura brasileira. Mas hoje muitas dessas peças são mais que meras lembrancinhas de campanha, usadas para o eleitor lembrar o número de seu candidato, por exemplo. Neste ano eleitoral, o consumidor paga para exibir no peito em qual lado das urnas ele está.

O fenômeno mostra um ponto no qual política e consumo convergem. "Já faz um tempo que marcas têm se identificado com causas", comenta a professora Isabela Kalil, coordenadora do curso de sociologia e política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

"Com isso, quando você compra produtos de determinadas empresas, você se coloca em uma certa posição — não necessariamente partidária", diz. Isso vale, também, para estampas de temática política.

Segundo o sociólogo Tulio Custódio, os elementos que ajudaram a criar esse caldo no Brasil são a cultura do personalismo e o marketing político, que, grosso modo, separam para o público a imagem do político de projetos e bandeiras, e culminam num terceiro ponto, que é a despolitização.

"Exacerbar o conflito entre Lula e Bolsonaro é um processo que muitas vezes está desconectado dos caminhos que são fundamentais para o exercício da política dentro de uma democracia, que são a negociação, o debate, a construção de consenso dentro do dissenso."

Ou seja, quem usa peças com imagens de um ou de outro se põe de um lado da disputa, mas não discute, necessariamente, os programas eleitorais do candidato que escolheu apoiar publicamente.

Apesar do esvaziamento da discussão política, a disputa na moda e no consumo tem um universo imagético rico em significados —assim como os duelos que inundam o mundo do entretenimento.

Meca do comércio popular de São Paulo, a região da 25 de Março ainda tem pouca oferta de tralhas eleitorais. Mas, como tudo por ali, basta procurar.

Numa barraquinha coberta por camisetas pretas, com estampas de bandas de rock e super-heróis, novos itens disputam a atenção dos fregueses. Chamam a atenção peças de tecido amarelo e um símbolo parecido com o da banda Ramones, mas com a frase "é melhor Jair se acostumando", uma em que se lê "meu partido é o Brasil" ou ainda outra, esta escura, que exibe uma caricatura sorridente do presidente Jair Bolsonaro fazendo um joinha enquanto usa os óculos pixelados do meme "turn down for what".

"O pessoal chegava a fazer fila para comprar as camisetas do Bolsonaro", conta a comerciante Quila Ferreira, que vende os produtos desde 2018 —as camisas custam R$ 25 e os bonés, R$ 15. "Tem dia que é o que salva as vendas." Ela só tem produtos dedicados ao atual presidente.

Veja a matéria completa.

Folha de S. Paulo

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