26 de outubro de 2022 às 16:45
Há algo de errado na propaganda eleitoral de rádio com certeza. E há algo de errado na fraude nas inserções de rádio da campanha de Bolsonaro
Mas se se trata do cataclisma desenhado na coletiva de imprensa que Fábio Faria e Wangjerten convocaram na segunda-feira não sabemos.
Com base no que apurei e no que está acontecendo em tempo real, concluo que: teve coisa errada, sim. Mas como está desenhado na denúncia apresentada na segunda-feira não foi. Não até aqui.
Qual é a alegada fraude?
Que mais de 154 mil inserções pró-Bolsonaro deixaram de ser veiculadas num milhar de rádios, beneficiando Lula.
Qual é a realidade?
Do que podemos observar, que os números apresentados se baseiam num levantamento que não é confiável - não porque tenha partido da própria campanha do Bolsonaro.
Mas porque se refere a medições da programação online, e não das rádios em si. Para quem está chegando no assunto agora, é muito comum haver uma programação nas ondas do rádio e na internet ser outra.
Aqui a história fica interessante. Hoje, a Rádio Clube de Vitória da Conquista confirmou ao Blog do Dina que é autêntico o áudio atribuído a um programa da emissora em que é narrado manipulação por parte do PT.
O que, Dinarte? Sim. Pelo descrito no áudio, a campanha do PT escreveu à radio dizendo que havia direito de resposta, falso, em verdade, concedido pela Justiça Eleitoral e que a emissora se abstivesse de veicular material de Bolsonaro, substituindo-o pelo de Lula.
A emissora teria feito tudo isso e descoberto na sequência que o PT a enganou.
Isso é uma coisa de uma gravidade tremenda.
Agora percebam: como é possível pegar esse caso e generalizar para todas as rádios do país?
Não é, mas é o que o campanha de Bolsonaro está fazendo para sustentar a tese de fraude nas inserções de rádio.
É a fraude alternativa. Tem mais. Vamos falar também do TSE e do segundo caso pinçado para sustentar a generalização da denúncia.
Se há alguém derrotado nessa eleição, é o próprio Tribunal Superior Eleitoral.
Hoje, ele exonerou um servidor que, saindo do TSE, se dirigiu à PF para prestar depoimento espontâneo sobre ter alertado o Tribunal sobre erros na propaganda eleitoral.
Procurei esse servidor, Alex Machado. Ele não me respondeu.
Vejam só: a campanha do presidente bota no mundo uma denúncia mambembe de união das rádios contra Bolsonaro e a favor de Lula, com o suposto apoio da Justiça Eleitoral - tudo isso não está dado escrito, mas inferido - e o que o TSE faz? Exonera um dos servidores envolvidos na propaganda eleitoral.
Um timing excelente.
Segundo Machado contou à PF, a rádio JM Online reportou não ter recebido as inserções de Bolsonaro. Tudo isso em tom de denúncia de sabotagem.
Procurei a redação do JM. Até o fechamento desse artigo, eles me afirmaram que iriam se posicionar sobre o assunto, mas ainda não o haviam feito.
Por fim, vejam só. Oito rádios foram citadas diretamente na denúncia que foi apresentada ao TSE na segunda-feira.
Sabe o que metade delas já respondeu até agora? Sim, em algum momento deixamos de veicular inserção de Bolsonaro, mas porque todo mundo mandou as inserções, menos a campanha de Bolsonaro.
Aí fica fácil de acusar golpe e fraude, né, amores...