Blog do Dina - O que a liderança da 96 FM tem a ver com minha própria trajetória de crescimento pessoal


O que a liderança da 96 FM tem a ver com minha própria trajetória de crescimento pessoal

2 de janeiro de 2024 às 12:23

Antes da meia-noite da virada do ano, Enio Sinedino me mandou um vídeo sobre o crescimento da 96 FM e sobre como, mais uma vez, graças a vocês, chegamos a patamares surpreendentes. Registrei mentalmente que iria repercutir aquele conteúdo de uma maneira que fosse pessoalmente verdadeira.

Lembrei do vídeo quase 24 horas depois quando avistei as torres da igreja matriz de São José de Mipibu, enquanto voltava de João Pessoa, recordando de uma matéria que fiz para o Novo Jornal em 2010.

Eu era estagiário e fui enviado para a cidade da região metropolitana para cobrir um ato de desagravo no qual católicos e evangélicos iriam às ruas em solidariedade ao padre da cidade. 

Tudo porque, dias antes, a parada gay de São José de Mipibu acabara dando em conflito entre o padre e líderes do movimento gay da cidade, com cenas de conflito dentro da igreja, durante uma missa.

Escrevi a matéria e senti que deveria incluir um comentário pessoal.

Eu tinha 22 anos, quando coloquei minha pele no jogo e critiquei o gesto de desrespeito dos líderes LGBT que invadiram a igreja e o discurso homofóbico do padre que condenou todos os gays de São José de Mipibu.

O comentário chocou Natal pela brutal honestidade com que escrevi sobre sexualidade e religião.

Treze anos depois, um comentário de teor semelhante, dessa vez na 96 FM, noutros tempos, com as pessoas mais maleáveis sobre o tema, mexeu de novo com a audiência. 

Mais uma vez, acredito que a brutal honestidade com que me despi foi o que causou espanto. Dessa vez, no entanto, as consequências de meu comentário estão sendo mais difíceis de lidar pela aparente sensação de não compreensão e julgamento. O comentário pode ser assistido aqui.

De um lado, escuto ‘elogios’ por ter ‘virado homem’ e um grande feito gostar de mulher. Do outro, escuto que sou ‘mentiroso’, 'indeciso' e também ‘homofóbico’. Nenhuma dessas pessoas foram alcançadas pelo que estava no meu coração quando decidi fazer o comentário. E está tudo bem. Me livrei do peso de querer controlar o que as pessoas fazem com o que digo.

Me atormentou, contudo, a ideia de que a minha intenção ao falar sobre mudanças na sexualidade não tivesse alcançado o objetivo que tracei antes de falar o que falei. Já havia escutado elogios pela coragem de se mostrar e agradecia sinceramente por isso. Eu sentia, no entanto, que faltava algo.

Até que veio o dia 29 de dezembro.

Numa sexta-feira à noite, fui interpelado por uma ouvinte. Ela me perguntou como estava sendo lidar com a bissexualidade porque ela sentia a mesma coisa e não sabia o que fazer. Arrematou dizendo que meu comentário a ajudou a ficar mais em paz consigo mesma.

Eu comecei a chorar porque a sensação de dever cumprido aconteceu dentro de mim. Senti que havia mais daquelas pessoas por aí. Que foram tocadas pelo que eu disse sem que eu jamais saiba disso.

E entendi que só um lugar como a 96 FM me proporciona a experiência de dizer o que disse, ao vivo, sujeito ao erro e ao cancelamento, ouvir o barulho alto dos dois lados da polarização, mas entender que há uma terceira fatia, grande, silenciosa e atenta, marca de todo líder de audiência.

Uma fatia que não comenta.

Que não dá like.

Que não critica.

Que não elogia.

Mas que sente. 

E isso me basta.

Obrigado.
 

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