por Dinarte Assunção

A Lista dos Gravatas: Como Investigadores Chegaram a 22 Advogados Que Se Associaram a Organanizações Criminosas no RN

2 de fevereiro de 2024 às 11:31

No intrincado universo do crime organizado, uma figura profissional vem chamando atenção por seu papel controverso: o advogado. Não qualquer advogado, mas aqueles que se desviaram de sua nobre missão de defender a justiça, optando por servir às sombrias demandas das facções criminosas.

Esses profissionais, conhecidos no submundo como "recadeiros" e "gravatas", atuam como verdadeiros elos entre os detentos e o mundo exterior, facilitando a comunicação e a coordenação de atividades ilícitas. 
 

Com tarifas que variam entre R$ 150 a R$ 1.500 por visita, esses advogados especializados em crime oferecem seus serviços não apenas para transmitir mensagens pessoais, mas também para orquestrar operações complexas como homicídios, tráfico de drogas e assaltos.

De acordo com o que foi apurado pelo blog, 58 advogados foram notificados para prestar esclarecimentos sobre suas visitas ao sistema prisional. Eles foram notificados pelas visitas ao sistema em um mapeamento realizado no primeiro semestre de 2022.

Uma lista final, com 22 nomes de profissionais associados às condutas criminosas, foi elaborada. Todos eles são investigados e alguns já foram alvos de busca, apreensão e prisão.

Os advogados, presos na operação Favens, deflagrada em julho de 2023, já estavam sendo investigados pela OAB/RN, com a devida representação perante o Tribunal de Ética e Disciplina. 

Alguns deles sequer responderam, no prazo estabelecido, a determinação emanada pela fiscalização, sendo, portanto, representados por violação ao inciso XVI, art. 34, do Estatuto da Advocacia.

As informações integram uma frente de investigação aberta da qual fazem parte órgãos como Polícia Civil, Ministério Público do RN e OAB. A divulgação desse material faz parte de uma série de reportagens do Blog do Dina sobre organizações criminosas.

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Modus Operandi

O modus operandi desses advogados revela uma perturbadora exploração de suas prerrogativas legais. Ao invés de representar seus clientes em tribunais, esses profissionais optam por visitas frequentes às lideranças das facções, agindo sob a fachada de defensores dos direitos dos detentos. 

A análise detalhada das visitas realizadas por advogados ligados a facções criminosas revela uma frequência alarmante, destacando-se casos em que profissionais realizaram entre 23 a 83 visitas a presídios em um único mês. 

Esses números não apenas sublinham a intensidade da colaboração entre advogados e detentos, mas também indicam uma dedicação quase exclusiva à comunicação e ao planejamento de atividades criminosas, em detrimento de qualquer prática legal legítima.

No entanto, suas verdadeiras intenções são facilitar a comunicação entre os membros da facção e instruir sobre os próximos passos das operações criminosas.

Mensageiros

Além de atuar como mensageiros, alguns desses advogados assumem um papel ainda mais ativo dentro das organizações criminosas, participando da estratégia e da execução de crimes, pressionando autoridades e até mesmo obstruindo investigações sob a pretensão de defesa das prerrogativas da advocacia criminal.

Essa realidade expõe um desafio significativo para as autoridades e para a sociedade como um todo. Enquanto a advocacia é essencial para o funcionamento do sistema de justiça, a infiltração do crime organizado entre seus profissionais levanta questões profundas sobre ética, integridade e a necessidade de mecanismos mais rigorosos de fiscalização e punição para aqueles que traem sua missão em nome do lucro e da cumplicidade com o crime.

A investigação continua, com as autoridades buscando maneiras de combater essa prática e restaurar a confiança na advocacia como uma força para o bem, e não um instrumento de corrupção e violência.

Captação de clientes das Orcrims

As organizações criminosas (Orcrims) não atuam apenas com advogados previamente aliados de dentro do seu grupo. 

Alguns profissionais aleatórios acabam por se inserir no esquema, sobretudo quando almejam aumentar sua renda.

Alguns se posicionam estrategicamente nas delegacias de plantão da cidade, especialmente nos finais de semana. 
 

Eles são "pescados" pelas famílias dos presos, que já sabem como observar quais profissionais estão propensos à prática. 

Feito isto, esses recebem sempre o pagamento em dinheiro vivo. Evitando comprometimento com transferências e rastreio de contas bancárias. 

Existe também a panelinha de advogados que atuam na porta dos presídios abastecendo o mesmo esquema. Os honorários para os recados costumam ser mais caros. 

Os profissionais do direito tomam cuidado para não se misturar entre as facções. 

Isso faz com que seja construída a falsa rotatividade nas visitas e despistem as suspeitas. 

A prática faz também com que os familiares de facções ou parceiros não precisem frequentar escritórios de advocacia e se submeterem por exemplo aos parâmetros de vigilância de prédios comerciais. 

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